Por Joana Araújo Psicóloga e Presidente da ACFAB - Associação de Cuidadores, Familiares e Amigos de Braga Existe um conjunto de situações para a qual não se está preparado: a rápida evolução da sociedade, o aumento da esperança média de vida, o processo de envelhecimento da população, os delirantes ritmos do dia-a-dia, as alterações climatéricas,… entre outros. Não estamos preparados individualmente, nem em termos familiares, nem tampouco a própria sociedade. O processo de envelhecimento favorece o aparecimento de doenças que aumentam ou desencadeiam incapacidades físicas ou mentais, mas estas podem, no entanto, ocorrer numa altura em que não é espetável. Esta ocorrência inesperada, mesmo em famílias supostamente mais preparadas, origina sempre um conjunto de problemas difíceis de enfrentar e que geram sentimentos contraditórios: incredibilidade, angústia, desespero, incerteza,… Idealmente, pensamos numa sociedade que disponibiliza apoios adequados para sabermos cuidar de nós e dos nossos, um grupo de profissionais de saúde que responda às necessidades essenciais para vivermos mais e melhor. Várias são as experiências pessoais de mudanças repentinas de vidas, quando confrontados com problema de saúde ou um diagnóstico. O mundo começa a cair-nos em cima. É um turbilhão de sentimentos e emoções, sem tempo nem espaço para viver, recheados da sensação de impotência. Várias são as experiências pessoais de vestir a camisola: adaptar um quarto com uma cama articulada, procurar obter apoios para os cuidados exigentes, terapias em casa, pressionar as infraestruturas e os profissionais da saúde, do apoio social, mas também implicam uma alteração radical na organização familiar. São experiências de dias densos ao serviço de um trabalho invisível. Tornar-se cuidador pode acontecer lentamente, à medida que as necessidades vão aumentando, ou de forma súbita, a seguir a uma doença, ou ainda quando não há opção, geralmente, assumindo o papel esperado. Independentemente de como se tornam cuidadores, as pessoas estão por norma mal preparadas para a longa caminhada. Chegados aqui, deparamo-nos com uma sociedade que não se articulou atempadamente no sentido de responder à realidade das famílias e às necessidades de apoios para manter os nossos junto de nós até ao fim. É imprescindível que se acautele a qualidade da vida, não só dos que sofrem de alguma doença, mas também de todos quanto deles cuidam, independentemente da idade, sem o que a sua tarefa se revele infrutífera. É necessário olhar as pessoas como um todo, cada necessidade como parte da necessidade global, no caminho do reconhecimento e valorização do papel da pessoa que presta cuidados informais. É um papel de especial relevância, de facilitadores das necessidades, de promover o bem-estar e a satisfação com a vida, prevendo, minimizando, ou apenas adiando, todas as formas de perda de autonomia e independência ao longo da etapa, que é a última, mas que se quer o mais longa e da melhor qualidade possível. As políticas públicas ainda não respondem às reais necessidades das pessoas que presta cuidados informais, a sua contribuição tem sido subvalorizado e prejudicado. São conhecidos os efeitos negativos não intencionais nos cuidadores informais e nas suas famílias, potenciando o aumento da sobrecarga sobre aqueles que cuidam e o sistema de cuidados de saúde. É imprescindível o seu real reconhecimento nos sistemas social e de saúde, assim como a valorização através de um apoio adequado para o seu papel. Mesmo na fragilidade e dependência, até nos dias finais existem necessidades e há vida para viver, para que a oportunidade de existir valha a pena, aproveitemos cada segundo dessa oportunidade.
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Firmino MarquesDeputado da XV Legislatura. Deputado efectivo na CP Parlamentar da "Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local" , participando também nas CP's dos "Assuntos Europeus" e "Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto". Arquivo
March 2023
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